MAR, MISTÉRIO, CANSAÇO E SONHO

Sonho com mar há muito tempo. Sempre.
Eu na superfície. O mar por baixo que não vejo.
Mistério, silêncio, sonho. Presença ausente, daquilo que se prevê.
Durante um tempo, nos meus sonhos, eu me via numa baía, nadando. Terra a vista. Longe, por todos os lados. Noite.
Em outros sonhos eu estava na praia, vazia. A onda que vinha pra fora.
A onda tomava a cidade. Subia as montanhas. Não se cabia.
Esse quase infinito de água e mistério nos remete à condição de ser só. E ser frágil.
Na peça “Mistérios gozosos”, de Oswald de Andrade que, na década de 90, Zé Celso montou e meu pai musicou, há um trecho de uma música que diz “Há um grande cansaço de explicar o mar”.
Há um grande cansaço de explicar o mar.
Seu ritmo de silêncio profundo, sua toada exausta, de ir e vir. Saber-se imponente. Solto e sempre.
Explicar e ser mar geram exaustão. E apesar dela a busca é infinda. Busca e devaneio. Navegar nas ondas das imagens que se debruçam, generosamente.
Nos meus sonhos ele é mais forte do que o real. Quando vou à praia não é ele que vejo.
Chamo-o de oceano de trás. Ele que mora em mim. Nas costas. Como que formando asas.
Ele que me lembra do que sou.

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